[ciência aberta]Declaração do México - LATINDEX, REDALYC, CLACSO e IBICT

Fabio Azevedo fazedo em gmail.com
Terça Agosto 14 01:50:14 UTC 2018


Olá, Tel!

Obrigado por sua resposta.

Vejo que você tem uma larga experiência e com atividades bastantes
diversificadas. Eu concordo consigo que licenças NC (ou ND) podem fazer
sentido em algumas situações. De fato, até "todos direitos reservados" é a
melhor opção para seus autores em alguns casos, como Pato Donald e Enter
Sandman. Mas eu estou falando de recursos produzidos por instituições
públicas e cujo objetivo não é angariar fundos com a venda de licenças
comerciais. Veja alguns exemplos:

Imagens produzidas pela UFRGS:. https://www.flickr.com/photos/fotoufrgs,
pela Prefeitura de Porto Alegre
https://www.flickr.com/photos/prefeituraportoalegre/ com licença NC e pela
FUNAI
https://www.flickr.com/photos/funaigovbr/ com todos direitos reservados.

Algumas dessas fotos têm valor educacional e poderiam muito bem estar no
Wikimedia Commons, mas eu não posso subir lá porque o Commons exige licença
livre. Projetos educacionais comerciais não poderão usar por uma restrição
explícita e muitos projetos de REA, assim como o Commons, se recusarão a
usar. No fim, vão servir para quê estas imagens? Para o usufruto do Flickr
e das redes sociais em que serão compartilhadas. Por que estas instituições
dão ao Yahoo o direito de explorar comercialmente suas obras e não dão a
outros?  Não é uma questão de ideal, é pragmática. Será que a licença NC ou
C é a melhor licença para estar instituições atingirem seus fins?

Suponho que esteja a par que Agência Brasil recentemente atualizou seus
termos de uso de adotou restrição comercial. Bye bye, foto de político na
Wikipédia.

os produtores do material não gostam da ideia de que universidades e grupos
privados façam uso de sua obra para uso comercial, parcialmente, por entrar
em conflito com a noção de educação, e tem muitos exemplos do uso de seu
material por universidades privadas, prática com o que qual não concordam

1) Como assim? Eu sou um dos organizadores do projeto Recursos Educacionais
Abertos de Matemática <https://www.ufrgs.br/reamat/> e todos nós adoramos
quando nosso material é usado por instituições privadas ou públicas.
Ficamos felizes de ver que já começa a ter tantos acessos de SP quanto do
RS. Eu ficaria muito orgulhoso de saber que alguém está imprimindo para
vender cópias, pois se estiver fazendo isso (da forma correta) é para dar
acesso a quem não tem de forma gratuita. No fim das contas, nosso material
não é a Disney e se não o fizermos aberto, o mais provável é que seja
só-mais-um-livrinho-didático nos balaios do sebo, obras que se tornarão
órfãos e morrerão. Licenças abertas são uma forma de lhes dar vitalidade.

2) Licenças NC vão ter algum impacto sobre o uso deles por universidades e
grupos privados? É considerado uso comercial uma universidade privada
indicar um livro ou usar uma plataforma de ensino e aprendizagem?


Abraços,
Fábio Azevedo

Em 13 de agosto de 2018 10:04, Tel Amiel <tel em amiel.info> escreveu:

> olá fabio,
>
> saindo um pouco do campo de acesso aberto a revistas acadêmicas - um
> cenário diferente que pode ajudar contextualizar o NC é o dos recursos
> educacionais abertos (entendendo que você está falando de recursos
> produzidos com dinheiro público - e isso faz diferença - mas vou mencionar
> outros da experiência que temos abaixo).
>
> tivemos sucesso trabalhando *sem* o NC na Universidade Aberta do Brasil (
> UAB <http://uab.educacaoaberta.org>). ali, os bolsistas (de 127
> universidades públicas) tem a opção de selecionar 4 licenças CC (sem
> incluir a cláusula ND) uma parte seleciona cláusulas que não incluem o NC -
> não temos os números oficiais ainda para saber quantos.
>
> é quase unânime a preocupação com o uso comercial da obra - sabemos disso
> por trabalhos de pesquisa que fizemos com a UAB. os produtores do
> material não gostam da ideia de que universidades e grupos privados façam
> uso de sua obra para uso comercial, parcialmente, por entrar em conflito
> com a noção de educação, e tem muitos exemplos do uso de seu material por
> universidades privadas, prática com o que qual não concordam. o recente
> furor dos defensores dos recursos abertos com empresas americanas (como a
> Cengage) que estão entrando no campo dos REA e inserindo recursos abertos
> em plataformas fechadas (com custo) é um outro exemplo disso.
>
> é claro que para as grandes editoras, por exemplo, a NC, mesmo preservando
> seu mercado, ainda causa medo. há um desentendimento das licenças abertas
> como um todo e o impacto disso em todo o modelo de negócios e compras. percebemos
> isso em grandes editais e portarias que conseguimos influenciar (SEB
> <http://aberta.org.br/mec-publica-portaria-sobre-recursos-educacionais-abertos/>,
> Robótica do MEC
> <http://aberta.org.br/robotica-mec-materiais-pedagogicos-abertos/>, PNLD
> 2018 e 2019
> <http://aberta.org.br/materiais-educacionais-comprados-pelo-mec-terao-licenca-creative-commons/>).
> estamos trabalhando para fazer com que isso fique mais claro.
>
> em outro campo, conversando com algumas pequenas empresas e ONGs, o NC é
> algo que veem como necessidade para que seus produtos não sejam
> comercializados por outras pequenas, ou que sejam engolidos pelas grandes.
>
> me interessa muito o debate da NC. cada vez que converso com diferentes
> atores e grupos, encontro diferentes demandas e percepções e começo a ver
> consequências muito distintas em diferentes campos. para mim, fica cada vez
> mais claro que as 'seis CC' não resolvem todas as nuances que encontramos
> na vida real.
>
> sobre o outro tema - o problema de usar plataformas como google, fickr e
> afins é algo que nos preocupa muito no universo dos recursos abertos. a
> falta de controle sobre as infraestruturas gera uma enormidade de
> problemas
> <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/32320>.
>
> abraços,
>
> tel
>
> Em 12/08/18 14:45, Fabio Azevedo escreveu:
>
> Olá, pessoal!
>
> Esta discussão veio bem a calhar. Semana passada, entrei em contato com a
> Prefeitura de Porto Alegre e com a gerência administrativa do LUME
> (repositório científico da  UFRGS) sobre o uso de licenças não comerciais.
>
> Do LUME, veio a resposta que eles escolheram um licença NC porque outros
> repositórios fazem o mesmo, eu perguntei se havia outra razão e não me
> responderem ainda.
>
> Da Prefeitura de Porto Alegre, disseram-me que não desejam licenciar para
> uso comercial e que também foi a recomendação do procurador-geral. Quando
> perguntei a razão e por que haviam escolhido o Flickr, que é uma empresa
> com fins lucrativos para hospedar o material, também ainda não me
> responderam.
>
> Alguém saberia me explicar por que razão um procurador-geral aconselharia
> uma prefeitura a não dar licença livre ao conteúdo produzido?
>
> Além disso, alguém já teve sucesso em convencer gestores de conteúdo a
> abandonar a cláusula NC?
>
> Obrigado,
> Fábio Azevedo
>
>
>
>
> Em 8 de agosto de 2018 21:44, Alexandre Hannud Abdo <abdo em member.fsf.org>
> escreveu:
>
>> Ni! Olá pessoal,
>>
>> Achei que valia o esforço de reescrever o comentário que fizera à tal
>> declaração, com um tom mais claro e menos espinhoso... mas não menos
>> crítico :-P
>>
>> https://www.cienciaaberta.net/o-uso-da-clausula-cc-nao-comer
>> cial-prejudica-a-ciencia-aberta/
>>
>> Abraços,
>> l
>> e
>> .~´
>>
>> PS: todos receberam essa informação quando aderiram à lista, mas não
>> custa repetir, que o blog é aberto à participação. (:
>>
>>
>> 2018-07-26 3:03 GMT+02:00 Andre L Appel <alappel em gmail.com>:
>>
>>> Obrigado pelo follow up sobre as licenças, Abdo, assim como à Tatiane,
>>> ao Tel e Miguel pelos comentários. Discussões assim nos ajudam a perceber
>>> melhor o contexto e ir além das infos que estão por aí nas cartilhas sobre
>>> licenças ou nos manifestos. Mas ressalto que ainda estou bastante curioso
>>> com relação às motivações ou o que / quem exatamente motiva/influencia a
>>> escolha entre as diferentes cláusulas pelas diversas comunidades. Fizemos
>>> (eu, Sarita e Ivonne Lujano), inclusive, esse comentário em trabalho
>>> para o Elpub <https://doi.org/10.4000/proceedings.elpub.2018.29> deste
>>> ano, em que vimos que a CC BY-NC-ND é quase tão usada (24%) quanto a CC BY
>>> (30%) por editores de revistas da AL&C, embora correspondendo a uma pequena
>>> amostra (n=55). Nossa ideia é seguir com um trabalho mais verticalizado com
>>> revistas que se mostraram interessadas, mas haja fôlego!
>>>
>>> Sobre o DOI, eu ainda preferiria ver as taxas administrativas, de
>>> transações internacionais, infraestrutura pessoal e administrativa etc.
>>> desatreladas da associação como uma opção ou ao menos explicitadas, para
>>> justificar a escolha 'informada' por uma modalidade ou por outra. Para uma
>>> revista ou instituição, a associação se apresenta como financeiramente
>>> vantajosa no momento (ao menos com o dólar a R$ 4), mas para uma
>>> universidade que tenha um portal com com 20+ revistas esse cenário já se
>>> altera um pouco.
>>>
>>> Sobre os treinamentos/apropriação, encontrei hoje este evento
>>> <https://www.eventbrite.com/e/crossref-live-in-brazil-goiania-tickets-47089814904>
>>> (tbm no anexo) 'perdido' entre e-mails e tenho que reconhecer o trabalho da
>>> Associação nesse sentido.
>>>
>>> Abs,
>>> Andre
>>>
>>> On Tue, Jul 24, 2018 at 8:07 AM Alexandre Hannud Abdo <
>>> abdo em member.fsf.org> wrote:
>>>
>>>> 2018-07-22 0:22 GMT+02:00 Andre L Appel <alappel em gmail.com>:
>>>>
>>>>> Vendo a resposta do Ale, me pergunto por que a própria comunidade
>>>>> criou a modalidade NC se esta é assim tão prejudicial à própria
>>>>> comunidade!?
>>>>>
>>>>> (Sim, é pergunta retórica. Vou pesquisar :)
>>>>>
>>>>
>>>>
>>>> Ni! Legal Andre, imaginando que você já teve tempo para suas
>>>> pesquisas... ;-) faço um acréscimo.
>>>>
>>>> Não foi a comunidade de acesso aberto quem criou as cláusulas das
>>>> licenças creative commons, foi uma organização, a Creative Commons,
>>>> liderada por advogados e cujo objetivo é fornecer instrumentos jurídicos
>>>> genéricos para a flexibilização dos direitos de autor. Como eles dizem,
>>>> "some rights reserved".
>>>>
>>>> Vale observar que a própria Creative Commons, enquanto oferece um
>>>> espectro de licenças, etiqueta as suas licenças para diferenciar as livres
>>>> das não livres. As licenças com as cláusulas NC ou ND não recebem a
>>>> etiqueta de licença livre.
>>>>
>>>> Mas não se deve ignorar que as licenças contendo a cláusula NC e, ou,
>>>> mesmo a ND (sem derivados), são em todo caso melhores que "todos os
>>>> direitos reservados", e ainda podem ser úteis numa transição para licenças
>>>> livres onde esse for o objetivo.
>>>>
>>>> Contudo, a cláusula NC impacta negativamente o acesso aberto porque
>>>> essa comunidade já conseguiu, em grande medida e em particular lutando
>>>> contra os esforços pró-NC das grandes editoras, estabelecer licenças livres
>>>> como padrão, e nesse estado a cláusula NC representa um grande retrocesso,
>>>> pelas razões previamente expostas.
>>>>
>>>> Lembrando que as grandes editoras não defendem a cláusula NC por
>>>> vocação. Elas querem "todos os direitos reservados". Elas defendem a NC
>>>> apenas aonde a maré já virou para o acesso aberto, levando-as a analisar
>>>> esse novo contexto e tanto quanto possível puxar a corda para o seu lado -
>>>> o lado da exclusão e da mercantilização.
>>>>
>>>>
>>>>
>>>>> Aproveitando o gancho sobre a adesão ao banco da CrossRef, é preciso
>>>>> atentar também para o valor (crescente) que as revistas estão tendo que
>>>>> pagar para registrar número DOI aos artigos via o convênio Abec/IBICT.
>>>>>
>>>>> Antes do convênio, isso custava US$ 275 anuais de associação à
>>>>> CrossRef + US$ 1 por artigo.
>>>>>
>>>>> Agora custa ~ R$ 500 anuais de associação à Abec (não me perguntem o
>>>>> porquê da "venda casada) + US$ 1 por artigo
>>>>>
>>>>> OU
>>>>>
>>>>> US$ 5 (!?) por artigo sem associação.
>>>>>
>>>>> Há vantagens em pagar via Abec? Sim, como pagar em Reais e sem
>>>>> transação internacionalização, por boleto, p. ex. Mas há muito mais
>>>>> detalhes desse convênio a serem esmiuçados. Esses aumentos de custos nem
>>>>> sempre "fundamentais" (e dependentes do dólar flutuante) às nossas revistas
>>>>> podem levar a uma corrida pela cobrança de APC. E falo nem sempre
>>>>> fundamentais pq afirmo, com certa convicção, que a maioria da comunidade
>>>>> acadêmica brasileira só vê importância no DOI para inserir artigos no
>>>>> Lattes. Seria bem oportuna mesmo uma "apropriação" do DOI pela comunidade
>>>>> de revistas e acadêmicos, com foco nas citações abertas, altimetria etc.
>>>>>
>>>>
>>>>
>>>> Se eu entendi bem pagar pela Abec no final sai mais barato para a
>>>> revista, pois a taxa de inscrição em reais é metade da taxa em dólares e
>>>> não flutua. O preço alto sem passar pela associação pode ser proposital
>>>> para desmotivar a transação direta e estabelecer a Abec como uma gestora
>>>> local, o que pode se explicar por razões legítimas organizacionais e de
>>>> custo.
>>>>
>>>> Mas se ver algo estranho, apite ;-)
>>>>
>>>> .~´
>>>>
>>>>
>>>>
>>>>> Abs,
>>>>>
>>>>> Andre
>>>>>
>>>>> On Wed, Jul 18, 2018, 8:54 PM Alexandre Hannud Abdo <
>>>>> abdo em member.fsf.org> wrote:
>>>>>
>>>>>> Ni!
>>>>>>
>>>>>> Bom, vamos lá... eu não ando com tempo mas é preciso lembrar algumas
>>>>>> coisas.
>>>>>>
>>>>>> 0) A indústria editorial é a maior proponente das licenças NC, e foi
>>>>>> a duras penas que isso não se estabeleceu, mas o risco sempre paira.
>>>>>>
>>>>>> 0.1) Preciso explicar o porquê deles terem lutado tanto por isso?
>>>>>>
>>>>>> 0.2) Ok, explico: a licença NC preserva parte do monopólio e portanto
>>>>>> é mais condutiva à mercantilização do conhecimento.
>>>>>>
>>>>>> A Elsevier está bem a par disso, e deve estar contentíssima com essa
>>>>>> declaração conjunta. Deve estar mais contente ainda que nem teve de pagar
>>>>>> gente para defendê-la.
>>>>>>
>>>>>> A situação é a mesma de outros meios, como música ou cinema: os
>>>>>> grandes conglomerados sempre favorizam as licenças não comerciais, pois
>>>>>> eles entendem muito bem a lógica do capital, que não é o comércio, mas a
>>>>>> exclusão. Aonde há exclusão, há potencial de mercantilização e exploração.
>>>>>>
>>>>>> Algumas observações que esclarecem isso:
>>>>>>
>>>>>> 1) Quando falamos de escolha de licença, estamos falando da "licença
>>>>>> para o público geral". Grandes editoras não são o público geral. Elas tem
>>>>>> dinheiro para comprar qualquer permissão que necessitem, ou os advogados,
>>>>>> juízes e políticos necessários para formar e burlar as regras que lhes
>>>>>> convém. E, em último caso, elas pagarão as multas ou indenizações que
>>>>>> conseguirem passar pelo calvário da justiça, e cujo pagamento já estava
>>>>>> previsto na precificação dos seus produtos.
>>>>>>
>>>>>> 2) Essa defesa do NC se apóia em parte no fato de numerosas revistas
>>>>>> na América Latina serem hoje organisadas por instituições públicas e
>>>>>> associações científicas. Assim também eram organizadas grande parte das
>>>>>> revistas científicas mundiais antes das grandes editoras as comprarem. E
>>>>>> elas apenas não compraram as revistas latino americanas por uma razão muito
>>>>>> simples: elas não vêem valor econômico algum, pois essas tem baixo impacto
>>>>>> internacional e os países aos quais interessam as tais editoras já sugam a
>>>>>> pouca seiva que têm.
>>>>>>
>>>>>> 2.1) Uma licença NC aumenta o motivo econômico para adquirir uma
>>>>>> revista pois permite formas de exclusão e portanto seu valor enquanto
>>>>>> mercadoria. Uma vez adquirida, fica mais fácil excluir a concorrência da
>>>>>> provisão de serviços agregados, pela própria liceça NC e por meios técnicos
>>>>>> independentes das licenças, como limites de acesso em massa.
>>>>>>
>>>>>> 2.2) Ver a realidade político-econômica da américa latina hoje e
>>>>>> achar que a comunidade acadêmica da região tem cacife para aguentar a
>>>>>> pressão no dia em que as grandes editoras tiverem motivo econômico para
>>>>>> comprar suas revistas só pode ser classificado como tremendo delírio.
>>>>>> Especialmente diante da realidade que as revistas latino americanas que
>>>>>> atingiram alguma relevância global já foram incorporadas, em ato contínuo.
>>>>>> Num prazo médio em quer perdure a tual conjuntura, não me espantaria até o
>>>>>> SciELO ser vendido, caso desperte o interesse.
>>>>>>
>>>>>> 3) Talvez o ponto mais crítico, pra não dizer triste: o principal
>>>>>> (único?) argumento da declaração para justificar a cláusula NC são os
>>>>>> "motores de busca", "descobridores" e serviços agregados em geral. Isso
>>>>>> mostra um grave desconhecimento da realidade legal e econômica. Uma licença
>>>>>> NC não vai impedir nenhum ator, comercial ou não, de prover uma grande
>>>>>> parte desses serviços, em particular os dois citados explicitamente.
>>>>>>
>>>>>> 3.1) Já parou para pensar que o Google indexa e fornece inúmeros
>>>>>> serviços analíticos sobre a Web? Já parou para pensar que 99% da Web tem
>>>>>> *todos* os direitos reservados? Fica a sugestão do quão efetiva será na
>>>>>> prática uma licença NC para o que a declaração pretende.
>>>>>>
>>>>>> 3.2) Ademais, qualquer luta contra esses usos, particularmente a
>>>>>> adoção de restrições NC, corre o risco de auto-sabotagem, pois a
>>>>>> possibilidade de mineiração de texto e dados sem autorização prévia
>>>>>> interessa principalmente à comunidade científica, que está longe de
>>>>>> conseguir excessões universais "para uso acadêmico" e que, mesmo se
>>>>>> conseguisse, seguiria longe de ter a competência e os recursos para fazê-lo
>>>>>> na escala da própria demanda, sem parcerias com atores de mercado com
>>>>>> compromisso pró-abertura.
>>>>>>
>>>>>> Isso nos remete a essa questão: em termos de força para equiparar as
>>>>>> ofertas de serviços das grandes editoras, as licenças NC deixam a academia
>>>>>> e sociedade civil impedidas de colaborar com iniciativas de
>>>>>> empreendedorismo pró-abertura, e dificultam a concorrência de pequenos e
>>>>>> médios empreendimentos com compromisso acadêmico (i.e. ContentMine
>>>>>> <http://contentmine.org/>, que inovou com uma cláusula pétrea
>>>>>> pró-abertura no seu contarto social), que não terão o capital jurídico para
>>>>>> prevalecer contra o risco de ataques, inclusive ataques das grandes
>>>>>> editoras que serão as primeiras a se aproveitar do NC para afogar a
>>>>>> competição.
>>>>>>
>>>>>> Enfim, eu não consigo ver sequer uma brecha pela qual uma licença NC
>>>>>> fará qualquer bem nesse contexto que não seja na escala de tempo a mais
>>>>>> míope. Se há, com grande probabilidade não se trata de um rombo pelo qual
>>>>>> ela pudesse fazer mais bem do que todos os problemas que ela causa.
>>>>>>
>>>>>> Sem falar no custo político de mobilização por quebrar o discurso de
>>>>>> acesso aberto em dois, dando munição para as grandes editoras defenderem
>>>>>> uma licença que já defendem pois lhes convém. Nem é preciso entrar nisso.
>>>>>>
>>>>>> Igualmente não há necessidade de discutir que adotar uma licença
>>>>>> incompatível com o acesso aberto internacionalmente estabelecido será mais
>>>>>> um fator de opacidade ao resto do mundo para a produção acadêmica da
>>>>>> américa latina.
>>>>>>
>>>>>> Falando em termos mais gerais, o fato é que direito autoral é o
>>>>>> instrumento errado para levar essa luta. Isso não foi evidente de imediato,
>>>>>> mas em repetidas iterações percebeu-se que, para os interesses mesmo de
>>>>>> médio prazo da ciência, era preciso evitar ainda a cláusula SA
>>>>>> (CompartilhaIgual) para publicações e, para dados científicos, preferir o
>>>>>> domínio público.
>>>>>>
>>>>>> Há, pour outro lado, instrumentos adequados para essa luta. E é
>>>>>> lamentável que essa declaração nem sequer os menciona. Uma declaração com
>>>>>> sentido, e impacto positivo e não negativo para os fins propostos, seria
>>>>>> conclamar o dito "sistema latino americano de acesso aberto" a:
>>>>>>
>>>>>> A) Integrar-se com urgência aos bancos de dados CrossRef e OrcID.
>>>>>> Estes são os dois principais esforços que ameaçam materialmente o monopólio
>>>>>> das grandes editoras sobre os ditos "serviços agregados".
>>>>>>
>>>>>> B) Financiar infra-estruturas e pesquisas acadêmicas em consórcio
>>>>>> para o desenvolvimento de serviços agregados ao acesso às publicações e
>>>>>> dados, em parceria com o setor privado local pró-abertura.
>>>>>>
>>>>>> C) Reforçar, inclusive através de mandatos institucionais, o uso de
>>>>>> licenças mais permissivas (CC-BY para publicações, CC-Zero para dados) que
>>>>>> nivelem o campo de jogo e garantam que toda a sociedade terá a
>>>>>> possibilidade de fruir do conhecimento produzido, sem privilegiar quem tem
>>>>>> capital jurídico, e independentemente de quem controlar as instituições no
>>>>>> futuro.
>>>>>>
>>>>>> Bem, parei por aqui que tá tarde, e antes que isso vire uma lista
>>>>>> para papai noel ;-)
>>>>>>
>>>>>> .~´
>>>>>>
>>>>>>
>>>>>>
>>>>>> 2018-07-05 22:47 GMT+02:00 Miguel Said Vieira <msv em dev.full.nom.br>:
>>>>>>
>>>>>>> Concordo com o Tel, pessoal. Eu acrescentaria que esse caso mostra
>>>>>>> que às vezes há diferenças significativas de contexto (na América Latina o
>>>>>>> acesso aberto foi historicamente custeado sem fins lucrativos, em
>>>>>>> particular pelo setor público; as grandes editoras tradicionais, cujos
>>>>>>> modelos de negócio já fazem uso das publicações em acesso aberto -- para
>>>>>>> produzir "serviços de valor agregado" ou inteligência de negócios --, são
>>>>>>> de outra região, e do setor privado); essas assimetrias precisam ser
>>>>>>> consideradas com cuidado quando argumentamos em favor de soluções uniformes
>>>>>>> (uma licença para todos).
>>>>>>>
>>>>>>> Abraços,
>>>>>>> Miguel
>>>>>>>
>>>>>>>
>>>>>>>
>>>>>>> On 07/05/2018 12:55 PM, Tel Amiel wrote:
>>>>>>>
>>>>>>> olá pessoal,
>>>>>>>
>>>>>>> eu acho que o debate em torno da cláusula NC não vai ser contornado
>>>>>>> com facilidade, e o problema se dá em grande parte porque somente 6
>>>>>>> licenças não contemplam as demandas de uma pluralidade de atores e
>>>>>>> contextos. por muito tempo fui absolutamente contra a adoção da cláusula,
>>>>>>> mas conversando cada vez mais com diferentes atores, percebo que é difícil
>>>>>>> encontrar soluções práticas para diversos de seus problemas de
>>>>>>> licenciamento. enquanto a discussão se dá no acesso aberto ao conhecimento
>>>>>>> científico (OA), creio essa defesa é mais fácil, mas em outros campos, é
>>>>>>> bem mais tênue.
>>>>>>>
>>>>>>> abraços!
>>>>>>>
>>>>>>> tel
>>>>>>>
>>>>>>>
>>>>>>> Em 24/06/18 19:39, Tatiane escreveu:
>>>>>>>
>>>>>>> Caros colegas,
>>>>>>>
>>>>>>> Na contramão das recomendações das Declarações de Budapeste,
>>>>>>> Betesdha e Berlim, da Open Knowledge Foundation, da Rede SciELO, entre
>>>>>>> outras instituições e documentos gerados pelo Movimento de Acesso Aberto, a
>>>>>>> LATINDEX, REDALYC, CLACSO e IBICT lançaram, em 15 de dezembro de 2017, a
>>>>>>> Declaração do México, que reivindica e apoia o uso da Licença CC BY-NC-SA
>>>>>>> para garantir a proteção da produção acadêmica e científica em acesso
>>>>>>> aberto, restringindo a apropriação dos resultados de pesquisa para fins
>>>>>>> comerciais.
>>>>>>>
>>>>>>> A preocupação central do documento é impedir que as editoras se
>>>>>>> apropriem da produção em acesso aberto licenciada em CC-BY.
>>>>>>>
>>>>>>> Contudo, ao ler e estudar um pouquinho alguns documentos que mostram
>>>>>>> os limites da adoção da licença CC-BY-NC-SA para o uso e disseminação livre
>>>>>>> do conhecimento, me questionei se este caminho (Declaração do México -
>>>>>>> LATINDEX, REDALYC, CLACSO e IBICT) não seria um retrocesso aos avanços que
>>>>>>> foram gerados a partir de ações e debates que se nortearam pela perspectiva
>>>>>>> do comum e da ética hacker.
>>>>>>>
>>>>>>> Observo, em alguns debates, que diversos grupos adotam a licença
>>>>>>> Creative Commons mais restritiva (BY-NC-SA) pela falta de compreensão do
>>>>>>> que esta licença significa. Assim, seria muito interessante que o grupo,
>>>>>>> que é um espaço de trocas e aprendizagem, pudesse debater essa questão.
>>>>>>>
>>>>>>> Em meu trabalho, por exemplo, propomos a licença BY-SA, mas fomos
>>>>>>> derrotados pelos gestores, mesmo com todas as explicações e documentos que
>>>>>>> apresentamos. Inclusive agradecemos ao Alê por este texto: ABDO, Ale
>>>>>>> xandre Hannud . Libertando a força do comum. Revista AREDE. D
>>>>>>> isponível em *http://www.revista.arede.inf.br/site/edicao-n-91-maio-2013/5621-raitequi-libertando-a-forca-do-comum
>>>>>>> <http://www.revista.arede.inf.br/site/edicao-n-91-maio-2013/5621-raitequi-libertando-a-forca-do-comum>*
>>>>>>>  .
>>>>>>>
>>>>>>> Entendemos, assim, que teremos que trabalhar num processo de
>>>>>>> formação, com o apoio de especialistas que nos ajudem a mostrar que as
>>>>>>> licenças mais abertas (BY e BY-SA) fortalecem a cultura do comum.
>>>>>>>
>>>>>>> Gostaria muito de ouvir a opinião do grupo sobre a Declaração do
>>>>>>> México: http://www.accesoabiertoalyc.org/declaracion-mexico-pt/
>>>>>>>
>>>>>>> Abraços,
>>>>>>>
>>>>>>> Tatiane
>>>>>>>
>>>>>>>
>>>>>>>
>>>>>>> _______________________________________________
>>>>>>> Blog: http://cienciaaberta.net
>>>>>>> Wiki: http://pt.wikiversity.org/wiki/Portal:Ciência_Aberta
>>>>>>> Chat: https://riot.im/app/#/room/#cienciaaberta:matrix.org
>>>>>>> Lista cienciaabertacienciaaberta em lists.okfn.orghttps://lists.okfn.org/mailman/listinfo/cienciaaberta
>>>>>>>
>>>>>>>
>>>>>>>
>>>>>>>
>>>>>>> _______________________________________________
>>>>>>> Blog: http://cienciaaberta.net
>>>>>>> Wiki: http://pt.wikiversity.org/wiki/Portal:Ciência_Aberta
>>>>>>> Chat: https://riot.im/app/#/room/#cienciaaberta:matrix.org
>>>>>>> Lista cienciaabertacienciaaberta em lists.okfn.orghttps://lists.okfn.org/mailman/listinfo/cienciaaberta
>>>>>>>
>>>>>>>
>>>>>>>
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>>>>>>> cienciaaberta em lists.okfn.org
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>>>>>>>
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>>>>>> cienciaaberta em lists.okfn.org
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>>>>>>
>>>>>
>>>>> _______________________________________________
>>>>> Blog: http://cienciaaberta.net
>>>>> Wiki: http://pt.wikiversity.org/wiki/Portal:Ciência_Aberta
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>>>>> Lista cienciaaberta
>>>>> cienciaaberta em lists.okfn.org
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>>>>>
>>>>>
>>>> _______________________________________________
>>>> Blog: http://cienciaaberta.net
>>>> Wiki: http://pt.wikiversity.org/wiki/Portal:Ciência_Aberta
>>>> Chat: https://riot.im/app/#/room/#cienciaaberta:matrix.org
>>>> Lista cienciaaberta
>>>> cienciaaberta em lists.okfn.org
>>>> https://lists.okfn.org/mailman/listinfo/cienciaaberta
>>>>
>>>
>>> _______________________________________________
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>>>
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