[ciência aberta]lançamento do site Em Rede
Bia Martins
bia.martins em gmail.com
Terça Fevereiro 14 19:04:10 UTC 2017
Oi Abdo,
De minha parte, acho muito estimulante o debate.
Numa primeira leitura, acho que dá pra publicar esse texto mesmo que você
enviou, mantendo os links e com atenção a uma licença CC-BY.
Vou escrever ainda a minha parte e quando publicar os dois, divulgo aqui.
No mais, lembro a todos, mais uma vez, que o site está aberto para debates
como esse, divulgação de chamadas, indicações de leitura, textos reflexivos
ou de alerta etc etc.
Um abraço,
Bia
2017-02-14 16:54 GMT-02:00 Alexandre Hannud Abdo <abdo em member.fsf.org>:
> Oi Bia,
>
> Agradeço à proposta interessante, não tenho como escrever nada mais
> estruturado agora, mas se te convir fique à vontade para pegar o que
> escrevo aqui ou o que já escrevi em outros lugares[0,1] sobre o assunto. Se
> o fizer, não esqueça de na atribuição indicar a licença correta dos meus
> textos, ou CC-BY para o que tiver escrevo aqui na lista.
>
> Para começar é preciso lembrar que o que coloco segue a linha do que está
> argumentado extensivamente em lugares canônicos[2,3,4] de projetos que
> adquiriram escala e conseguiram transformar uma realidade global
> (Wikimedia, Creative Commons, BOAI etc).
>
> O que chamaria atenção no raciocínio de quem se sente atraído pela
> restrição NãoComercial é:
>
> 1. a tendência a confundir a realidade material com a mensagem política
> 2. ignorar que ação coletiva requer interfaces comuns para ganhar escala
> 3. não considerar quem é de fato impactado pelas restrições impostas
>
> "Controlar o uso comercial" parece ter uma mensagem super bacana e
> revolucionária. Contudo uma licença de direito autoral não é um panfleto,
> mas um instrumento legal. E são suas consequências materiais - por vezes
> não óbvias - que vão dar sua real mensagem.
>
> Ao adotar uma licença 'não comercial' você não muda em absolutamente nada
> a realidade para os grandes interesses, que quando precisarem podem sem
> titubear pagar pelo conteúdo ou criar sua própria versão. Isso pode ser um
> pouco não intuitivo pra quem não tem familiaridade. A Elsevier ou a Globo
> não tão nem aí pra se você licencia ou não seus trabalhos: o dia que
> quiserem elas podem comprar você, e senão, alguém melhor do que você, e aos
> múltiplos.
>
> Já conteúdo em licenças livres, por sua vez, tem algum potencial de os
> incomodar: o poder tem receio de construir sobre uma fundação na qual ele
> não pode adquirir privilégios. Não que seja um impacto enorme, mas ajuda a
> entender o diferente papel econômico. O impacto grande vem nesse mesmo
> sentido, mas olhando para o novo.
>
> (Um fato que fala por isso no caso do acesso aberto foi como as grandes
> editoras comerciais saíram ostensivamente na defesa de uma licença 'não
> comercial', sendo preciso muita pressão para conseguir-se adotar a licença
> livre CC-BY como padrão - e ainda não por toda parte.)
>
> Agora, olhando ao invés para a construção da realidade desejada, licenças
> 'não comerciais' dificultam ou impedem a difusão de ideias em diversos
> meios solidários, assim como dificultam a pessoas solidárias de polinizar
> ideias em outros meios. Ao mesmo tempo, criam um nicho incompatível com os
> conteúdos livres, diminuindo o valor multiplicativo das redes de produção
> do comum, sem nenhuma contrapartida.
>
> E, talvez o mais crítico, obstruem possibilidades de usufruto legal, e
> portanto em escala relevante, desse conhecimento por quanto menos se tem
> capital. E ainda mais duramente para quem não tem nem o capital mínimo para
> transacionar uma autorização, que logo viram uma cadeia delas pelo
> aditivismo da cultura. Notando que tais transações tem um custo
> significativo em tempo, e um requisito de capital intelectual e social para
> sequer tê-las como opção.
>
> Ademais, obstruem essas possibilidades mais agudamente nas regiões com
> menos infraestrutura digital, onde mesmo o acesso à informação ainda tem um
> custo econômico, e no no ponto mais vital para se criar uma comunidade
> sustentável: em possibilidades de geração de renda.
>
> Bem, essas são consequências num ponto de vista econômico.
>
> Poderíamos também olhar de um ponto vista político, e para tomar um
> exemplo a reflexão (um reflexo mesmo): "seria justo se eu pudesse ...
> autorizar ...". Temos aí, politicamente, um discurso inserido na lógica da
> exclusão, onde se entende justificar um monopólio sobre algo abundante.
> Penso que, ao invés de defender justiça através da exclusão, precisamos
> pensar em novas ideias de justiça, que tenham uma base solidária e não na
> disputa.
>
> [0] http://www.rea.net.br/site/faq/#c16
> [1] http://www.revista.arede.inf.br/site/edicao-n-91-maio-2013/5
> 621-raitequ
> i-libertando-a-forca-do-comum
> <http://www.revista.arede.inf.br/site/edicao-n-91-maio-2013/5621-raitequi-libertando-a-forca-do-comum>
>
> [2] http://freedomdefined.org/Licenses/NC
> [3] https://creativecommons.org/share-your-work/public-domain/freeworks/
> [4] no caso específico de revistas científicas,
> https://blogs.ch.cam.ac.uk/pmr/2011/12/04/more-on-how-
> commercial-publishers-use-non-commercial-licensing-funders-
> are-you-really-getting-your-money%E2%80%99s-worth-many-are-not/
>
> Abs,
> l
> e
> .~´
>
>
>
> 2017-02-12 14:30 GMT+01:00 Bia Martins <bia.martins em gmail.com>:
>
>> Oi Abdo,
>>
>> Tudo bom?
>>
>> Então, eu tenho uma visão diferente. Em primeiro lugar, não acho
>> contraditório, muito pelo contrário... Minha maior preocupação, em termos
>> mais abrangentes dentro de toda essa questão da produção aberta ou entre
>> pares, é com a sustentabilidade do comum.
>>
>> Me identifico mais com a linha do Dmytri Kleiner que defende diferentes
>> tipos de permissão para diferentes atores sociais. Não entendo que isso
>> represente um tipo de privatização do conhecimento, muito menos que
>> favoreça o capital.
>>
>> Por um lado, pra mim, é mais uma forma mesmo de marcar essa posição, na
>> defesa dessa visão. Por outro, entendo que seria muito justo que eu pudesse
>> avaliar o tipo de uso comercial para autorizar livremente ou exigir uma
>> contrapartida financeira, por que não?
>>
>> Mas sabe o que pensei? E se nós publicássemos esse debate no site? Vc
>> toparia? Você poderia escrever um texto de umas 30/40 linhas defendendo sua
>> posição e eu faço igual do meu lado. Publico e tento estimular as pessoas a
>> entrarem na discussão.
>>
>> O que acha?
>>
>> Um abraço,
>>
>> Bia
>>
>>
>>
>>
>> 2017-02-11 17:42 GMT-02:00 Alexandre Hannud Abdo <abdo em member.fsf.org>:
>>
>>> Oi Bia,
>>>
>>> Muito legal!
>>>
>>> Mas pq o 'não comercial' para o conteúdo da plataforma ?!
>>>
>>> Nem por ser meio contraditório, mas é um desperdício impedir que
>>> informações e reflexões importantes sejam comunicadas o mais amplamente
>>> possível.
>>>
>>> Só pra pegar um exemplo, se uma escola ou universidade privadas, um
>>> jornal de grande circulação, ou mesmo um blog ou canal de youtube que use
>>> de anúncios para se manter, quiser veicular legalmente um conteúdo
>>> publicado ali, precisará pedir autorização. Daí, sem a licença pública, vai
>>> envolver papelada, esforço, já era. E o que podia ser uma transformação
>>> desaparece antes mesmo de sair pela porta. E esses são só casos de
>>> conflitos óbvios que licenças 'não comerciais' criam, tem ainda todo o
>>> outro lado que é preservar a dimensão de conhecimento como propriedade e
>>> favorecer o capital, mas acho que nem precisamos chegar lá eheh.
>>>
>>> Abs,
>>> .~´
>>>
>>>
>>> 2017-02-11 15:57 GMT+01:00 Bia Martins <bia.martins em gmail.com>:
>>>
>>>> Amigos,
>>>>
>>>>
>>>> Tomo a liberdade de divulgar na lista o lançamento do site Em Rede, que
>>>> pode ser de interesse de alguns.
>>>>
>>>>
>>>> O site se propõe a ser um espaço para reflexão e discussão de temas
>>>> como Cultura Livre, Remix, Ciência Aberta, Economia P2P, Política em Rede e
>>>> outros assuntos que têm a ver com os tempos atuais das redes eletrônicas.
>>>>
>>>>
>>>> A edição de lançamento traz uma entrevista com o professor e ativista
>>>> Sergio Amadeu, que alerta para a maior ameaça à liberdade na rede no País:
>>>> o Congresso Nacional controlado por diversos lobbies que já conseguiram
>>>> emplacar vários projetos de lei que, se aprovados, representarão tremendo
>>>> retrocesso aos avanços estabelecidos pelo Marco Civil da Internet.
>>>>
>>>>
>>>> Outro tema em destaque é o debate em torno da Economia do
>>>> Compartilhamento x Cooperativismo de Plataforma, ou por que o Uber e o
>>>> Airbnb não representam a economia colaborativa. Além de outros posts sobre
>>>> Internet Livre e Ciência Aberta, o site traz ainda indicações de leitura e
>>>> divulgação de cursos e chamadas para congressos e publicações.
>>>>
>>>>
>>>> O novo espaço está lançado e a expectativa é que possa, aos poucos, ser
>>>> ocupado por todos os que tenham interesse nessas questões e vontade de
>>>> trocar ideias. Fica o convite para quem quiser entrar na roda e contribuir,
>>>> com comentários, sugestões ou posts (vale textos, imagens, vídeos etc.),
>>>> lembrando que Ciência Aberta é uma das áreas editoriais em destaque.
>>>>
>>>>
>>>> Aguardo a sua visita ;)
>>>>
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>>>> Um abraço a todos,
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>>>> Bia Martins
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